sábado, 9 de agosto de 2008

as antíteses congraçam

sei que fazer o inconexo aclara as loucuras.
sou formado em desencontros.
a sensatez me absurda.
os delírios verbais me terapeutam.
posso dar alegria ao esgoto (palavra aceita tudo).
( e eu sei de Baudelaire que passou muitos meses tenso
porque não encontrava um título para os seus poemas.
um título que harmonizasse os seus conflitos. até que
apareceu flores do mal. a beleza e a dor. essa antítese
o acalmou)

as antítese congraçam


( M.de B.)







pause

segundo semestre de 2003:

ao me deparar com Livro sobre o nada, Retrato do artista enquanto coisa, Livro de pré coisas,
me encantei de tal maneira por Manoel de Barros que foi como se alguém tivesse colocado escrito a maneira como eu sentia ou me sentia no mundo algumas vezes.

mágico. ponto.

comecei a ler toda a obra compulsivamente até resultar no tema da coleção primavera/verão 2004.

hoje, li dois textos do memórias inventadas - a infância, para o meu filho dormir, depois de um banho à luz de velas, com direito a apagar cada uma das velinhas no final do banho
(depois de vestir o roupão quando ele se tranforma num dragão legal e apaga os foguinhos).

sabe por que?
porque ele, o poeta, aos noventa anos me disse uma vez sentado em seu sofá preferido ( que ele sorrindo, diz já ter o formato de sua bunda) depois de ter visto o trabalho de moda - wearable art- que eu havia feito inspirado na obra dele, no olhar dele e da artista plástica Lucia Coelho sobre o pantanal sul matogrossense, minha terra natal..... etc, etc, etc...
ele disse o seguinte, mais ou menos assim : " minha filha, você como artista, como mãe, tem a obrigação de passar esse olhar ao seu filho....."

isso foi muito forte naquele momento, em que meu filho, então com um ano, estava se recuperando de uma dengue em campo grande.
primeira grande dor como mãe.

obrigada, poeta,
por me acalentar, mostrando que o modo como eu via e sentia o mundo era apenas uma bênção,
eu podia e posso realmente sentir o cheiro de um tom de verde, a cor de um som.....
obrigada, poeta, por incentivar e influenciar os meus sentidos.
por ter escrito a poesia que meu filho ouve antes de dormir.


Amém, Manoel De Barros.

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